Alguém aí sabe me dizer em que
momento da história o ser humano começou a ter que fazer coisas? Dezenas,
centenas, milhares, milhões, infinitas coisas todos os dias? Digo, em algum
ponto da história das sociedades as pessoas pararam de simplesmente viver
naquela molezinha de descolar o que comer, um abrigozinho sob o céu e um semelhante
jeitosinho pra se enroscar. Há muito tempo que isso aí já não vale mais nem pra
bicho de estimação (que até esses tem que cumprir seus ritos diários de
passeio, alimentação saudável, brincadeiras com o dono, pet shop, coleirinha e
presilhas no topete de pelo), pra viver a gente tem que cumprir umas 832
tarefas diárias que ao invés de serem eliminatórias são cumulativas! Sim, já
que a gente faz coisas com o intuito de gerar mais coisas para fazer. Reparem. Não
sei se isso é ruim em si, nem bom, é como é. Mas o fato é que a cada ano, a
cada geração, viver vai se tornando uma atividade mais e mais complexa e eu me pergunto
se a gente, filhotinho de macaco, precisaria mesmo de tudo isso.
Quando se é jovem - ou nem tanto assim, mas não ainda velha, vá lá, trintona com corpinho de 25 – solteira e moradora de uma metrópole como São Paulo, parece constituir-se um pecado mortal, um crime inafiançável, não querer sair por aí “na night” bebendo todas, dançando como se não houvesse amanhã, exalando euforia por cada poro do corpinho meio suado. É como se você estivesse abdicando de uma parte fundamental da vida, enterrando a si mesma, ainda em vida, numa cova com uma lápide onde se lê: “Aqui jaz uma jovem mulher em tédio mortal.”

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