Ontem eu fiquei observando você no hall do cinema. Um pouco depois do momento em que eu cheguei e fiquei chocada (e um tanto irritada) com as filas enormes, típicas de uma noite de feriado. Estava lá, parada, tentando calcular mentalmente o tempo que levaria para chegar ao guichê e conseguir meus ingressos (uns 40, provavelmente) quando vi você, já com o seu em mãos. Andava para lá e para cá. Cabeça baixa. Costas curvadas como se sob um peso muito grande (do mundo, talvez?). Roupas muito folgadas, seguramente uns dois tamanhos maiores do que o seu. Sozinho. O tempo passava. As pessoas – muitas – passavam também para lá e para cá: casais apaixonados, famílias inteiras, turmas de adolescentes ruidosos carregando sacos de pipoca gigantes. Você parecia alheio a tudo. Circulava. De um lado a outro. Como se não visse, ou não quisesse ver, ou não quisesse ser visto por ninguém. Ou quisesse ser visto por todos. Ou por alguém... Sem saber você me distraiu da fil...