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Micagens.




Quando criança me lembro de minha avó dizer  “deixa, essa menina tá fazendo micagem”. Por micagem ela  entendia atos para chamar a atenção e obter algum tipo de vantagem emocional ou material.  Um doce a mais, um ficar em casa com a mãe e não ir à escola, uma brincadeira do tipo que suja a casa toda... Uma criança pode conseguir muitas coisas fazendo micagem.  A não ser que se deparar com alguém mais linha dura, como minha saudosa vozinha,  que ao contrário da minha mãe, raramente caia nesses truques.

A expressão micagem tem a ver com o que é próprio do mico, sim, o bichinho mesmo, mas não exatamente em seu habitat natural. Remonta à época em que os circos tinham lá seus pequenos primatas adestrados para fazer mil e uma gracinhas a fim de entreter, divertir, agradar a plateia em troca de, sei lá, amendoins?!

Já não tenho mais sete anos  - e faz tempo -  mas não é que às vezes me pego fazendo micagens? No duro.  A micagem adulta tem infinitas formas de se travestir. Pode ser uma frase propositalmente colocada como se fosse natural.  Uma lágrima disfarçada de sorriso.  Um ir querendo ficar ou um ficar querendo ir.  A micagem pode vir em forma de presença forçada ou de ausência premeditada... Micagem é como receita de macarrão, cada um tem as suas preferidas, mas o céu é o limite!

A questão é, o propósito de agradar a platéia  - pagante ou não – e ganhar o amendoim no final  está lá firme.  A diferença é que, ao contrário dos 7 anos de idade, o “amendoim” a ser obtido costuma ser mais complexo que um doce a mais ou um dia sem aula.
Assim como na infância a única coisa que eu conseguia micando era tomar um pito da minha vó, confesso que não obtenho muito melhores resultados hoje em dia. Tomo pitos da dona vida. Tá vendo a falta que fazem umas boas palmadas quando ainda não se torceu o pepino?! Certos hábitos ficam arraigados e pra tirar é fogo.

E percebo que isso não ocorre só comigo, não. A nossa sociedade, aliás, favorece muito a micagem, e as pessoas vestem a roupa de mico com pompa e circunstância.  Mica-se no trabalho, mica-se no relacionamento, mica-se nas redes sociais (um belíssimo circo), mica-se na imprensa. Mica-se como se não houvesse amanhã!

Quero mesmo lançar o movimento Micagem Zero! Paremos de nos contorcer em busca da aprovação da audiência, nada de vestir a roupinha vermelha e o chapéu com brocal dourado só pra agradar. Em tempo, não confundir micagem com mico! Micos são saudáveis, sinal de que demos a cara à tapa, chafurdamos no ridículo, rindo junto com a vida e tá tudo bem. Salve os micos! Abaixo as micagens.  É isso, tá lançado o Micagem Zero (ironicamente, isso agradaria minha vó).

E como tudo na minha vida acaba em música (e aqui no circo é permitido) vamos curtir Presente Cotidiano no álbum Mico de Circo do nosso querido Luiz Melodia. 


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