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Mostrando postagens de agosto, 2012

Sobre chicletes e biografias.

Hoje eu engoli um chiclete, engasguei e achei que fosse morrer.  O período decorrido entre o susto inicial e o alívio de me descobrir sã e salva não deve ter durado mais que 10 segundos, mas deu tempo de passar toda minha vida diante de mim, igualzinho aos filmes.  Agora, vejam vocês como o cérebro humano é capaz de percorrer caminhos tortuosos mesmo em situações limite. Sabem o que eu (ou meu ego, talvez) tive tempo de pensar nessa hora? “Putz, vou morrer e nem vou ter escrito minha biografia”.  Sério. Talvez seja mais comum o cidadão pensar num testamento, ou num seguro de vida para a família, eu pensei numa biografia. Na minha biografia, publicada, com capa em PB e título em fonte sans serif. Bom, daí que São Pedro viu que  tinham trocado a minha senha de chamada para o céu a tempo de corrigir o erro e eis-me aqui, vivinha da silva, linda, plena, lépida e faceira.  Aí vocês podem pensar que foi um delírio causado pelo medo. Mas não foi, não, meus queridos inúmeros. Eu ac

Enguiçou.

Olá inúmeros, tudo bem? Espero que sim. Espero que ninguém aí tenha se excedido nas atividades do final de semana a ponto de cair e bater a cabeça em alguma quina embaralhando demais as ideias dentro da cachola. Mas por que eu estou dizendo isso? Bom, é por que acho que aconteceu comigo e eu não percebi.  Até dei uma procurada aqui para ver se achava um galo, um hematoma na testa, mas não vi nada. De todo modo, não vejo outra explicação para o meu raciocínio estar tão duro de pegar hoje, qual um carro enguiçado. Já aconteceu com vocês? As ideias, os pensamentos, as memórias... Está tudo lá, bonitinho, mas uma coisa não conversa com a outra e a sua comunicação parece tão eloquente quando a do homem de Neandertal. Para vocês terem uma noção, este post não deveria ser este post. Nã nã ni nã não. Primeiro seria um post sobre o dinheiro e como ele move nossas vidas de uma maneira ou de outra (post bonito, coisa profunda). Cadê que consegui fazer as teclas traduzirem o que

Micagens.

Quando criança me lembro de minha avó dizer  “deixa, essa menina tá fazendo micagem”. Por micagem ela  entendia atos para chamar a atenção e obter algum tipo de vantagem emocional ou material.  Um doce a mais, um ficar em casa com a mãe e não ir à escola, uma brincadeira do tipo que suja a casa toda... Uma criança pode conseguir muitas coisas fazendo micagem.  A não ser que se deparar com alguém mais linha dura, como minha saudosa vozinha,  que ao contrário da minha mãe, raramente caia nesses truques. A expressão micagem tem a ver com o que é próprio do mico, sim, o bichinho mesmo, mas não exatamente em seu habitat natural. Remonta à época em que os circos tinham lá seus pequenos primatas adestrados para fazer mil e uma gracinhas a fim de entreter, divertir, agradar a plateia em troca de, sei lá, amendoins?! Já não tenho mais sete anos  - e faz tempo -  mas não é que às vezes me pego fazendo micagens? No duro.  A micagem adulta tem infinitas formas de se travestir. Pode

Uma manhã qualquer.

A vida estava meio amarga naquela manhã. Enquanto bebia o café a goles curtos, o dia que mal começava já se mostrava infinito. Aquele tipo de infinito que não é vastidão, é só o não ter fim algo que, por natureza, deveria acabar. Foi então que ela teve a ideia que pareceu absurda no primeiro momento, tentadora no segundo e irresistível no terceiro. Olhou para a porta da cozinha, certificando-se de que ninguém entrava, apurou os ouvidos, todos estavam longe, ainda meio adormecidos  preparando-se para começar o dia. Fosse rápida e, quando chegassem, já estaria feito. Bebeu o último gole da xícara de café. Respirou fundo e não se deu tempo de hesitar. Abriu a tampa e mergulhou no pote de açúcar. Que estranha sensação. Não sentiu que a vida ficara mais doce, de início. Ao contrário, pareceu sufocar, o pote era apertado, o fino pó entrava pelas narinas, ela tossia. Mas então, aos poucos, foi se ambientando, os espaços pareceram se abrir e os pulmões já sabiam como li

Foi mal aí...

Minha mãe comentando comigo que uma sua conhecida disse a seguinte frase “tenho que pedir perdão a Jesus por ter estragado o meu corpo”. Achei, no mínimo, insólito.   Suponho que a maior parte dos pedidos de perdão que chegam à Caixa de Mensagens do nazareno costumam ser mais na linha do arrependimento por ter feito um mal qualquer a terceiros ou quartos (que tem até mais a ver com o conceito geral da moral cristã e tal), mas a referida senhora está é coberta de razão, não acham? Ora bolas, se ela crê num Deus que lhe deu um corpo supimpa, assim, de graça e ela simplesmente esculhambou com o coitado, tem mais é que pedir desculpas mesmo. Não se joga assim na lama um presente recebido, afinal. Tremenda falta de educação, seja com o Cristo ou não. Fato é que esta senhora, que eu nem conheço, me fez pensar se eu teria que pedir algum perdão  na mesma linha (só a título de exercício filosófico) e não é que eu fiz bem uma listinha? Querido Jesus (pode substituir pela divindad

Não ditos.

Eu bem queria palavras. Eu bem queria palavras lindas, retas, cheias e certas.  Que fossem como tiro ao alvo. Risonhas ou lacrimejantes, desde que chegassem lá, no coração da alma. Lá onde há incertezas, mas não dúvidas.   Que bem alcançassem aonde todo o mais foi falho:  ato e omissão, insinuação e gesto. Eu bem queria palavras mais fortes que olhar e língua, esses que tanto arvoram –se em ser os que dizem.  Me fogem, no entanto, tais palavras. Fica pulsando apenas a vontade, o abafado, o que arde.  Se ao menos houvesse onomatopeias...