Imagem: Bert Kaufmann
A hipermodernidade é definida pelo filósofo Gilles Lipovetsky não como uma era pós-modernidde, mas como uma nova face da própria modernidade, uma face hiperbólica em que os conceitos já sedimentados na era moderna (como o individualismo, a valorização da democracia e do mercado) são potencializados, levados a extremos. Daí vivermos no que poderia ser chamado de uma cultura do exagero, vivenciada por cada indivíduo até mesmo nas ações mais quotidianas.
O cidadão hipermoderno vive em caráter de urgência: o tempo é cada vez mais curto a sua lista de “necessidades” cada vez mais extensa e complexa. Ele precisa trabalhar muito, para ganhar muito dinheiro para adquirir os muitos bens que são lançados e propagandeados a cada dia. Por outro lado, precisa muito dar atenção a sua qualidade de vida, se alimentar muito bem, praticar atividades físicas com freqüência e disciplina, sem esquecer-se de arrumar tempo para a família e para os muitos amigos que deve ter, real ou virtualmente.
Do ponto de vista da indústria da moda, esta urgência se reflete diretamente na dinâmica dos lançamentos que materializam esta necessidade de uma quase subversão do tempo proposta por esta nova sociedade.
Efêmera por definição, a moda contemporânea sempre teve caráter mutante e gerador de novidades, mas antes o período entre o lançamento de uma coleção e outra, por exemplo, era de alguns meses. Uma coleção de verão durava realmente um verão inteiro e víamos saias curtas e biquínis nas vitrines enquanto o sol brilhasse forte e os termômetros marcassem altas temperaturas. Na era hipermoderna, a necessidade histérica de vender e consumir o que “o mundo está usando”, o acesso a informação globalizada por qualquer um que possa estar conectado a rede por um computador ou celular, e a necessidade paradoxal da inserção/diferenciação social, vêm encurtando este ciclo em velocidade vertiginosa e uma coleção que, antes, durava meses, hoje está velha com algumas poucas semanas. Deparar-se com vitrines repletas de casacos de lã sob um sol de 40° ou comprar biquínis enquanto ainda se esta tiritando de frio não causa mais nenhum estranhamento ao consumidor.
Por outro lado, algumas manifestações sintomáticas indicam que, como sempre ao longo da história, correntes divergentes de pensamento existem, e podem surgir de onde menos se espera: como um post da incensada blogueira prodígio, Tavi Gevinson, em que desabafa um certo cansaço com o ritmo insano das semanas de moda que se sucedem ao redor do globo.
Se este ritmo frenético seguirá se intensificando até que não haja mais sequer diferenças entre as estações ou se o movimento slow vai ganhar força e se refletir numa nova “nova forma” de se consumir moda só os anos (ou os meses?) dirão. Enquanto isto, mercado e consumidores seguem em busca de uma antecipação que nunca é suficiente.
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