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The Hunting Ground






Assisti ao documentário Hunting Ground (com um certo delay, sim) e, embora já tivesse certa familiaridade com o tema, não pude deixar de me impactar. Chorei litros, me revoltei toneladas... Acho que não dá para ser diferente. 

Para os desavisados de plantão, ele trata da questão do número alarmante de casos de violência sexual nas universidades de elite norte-americanas e da ainda mais alarmante postura dessas mesmas universidades, que fazem o possível para silenciar as vítimas e acobertar descaradamente os agressores, mantendo, assim, o nome da instituição limpinho e reluzente diante da opinião pública. Os dados, evidências e relatos são absolutamente assustadores. 
 
Os cursos em Stanford devem ser bem mamão com açúcar para 259 alunas terem que matar o tempo sendo publicamente humilhadas, porque senão, nossa que tédio!
 Estamos falando da elite intelectual do mundo. Estamos falando de jovens no topo da cadeia alimentar. Estamos falando de professores, professoras, reitores e diretoras com todos os PHDs da escala Richter acadêmica. Estamos falando de tudo isso e, ainda assim, estamos falando da mulher como indivíduo de segunda categoria, cuja palavra vale menos, cujo capital intelectual vale menos, cujos corpos  e dignidade tem menor valor, por exemplo, que uma das esculturas ou vidraças dos belíssimos campus. Falamos de meninas que viam nessas universidades um sonho realizado, um espaço de valorização de seu mérito, uma porta para tantas conquistas pessoais, profissionais e sociais.  Quer dizer, elas estavam falando, há anos, e ninguém fazia a menor questão de ouvir. Até que elas resolveram gritar, juntas, e a fazer tanto, mas tanto barulho, que já não é possível fingir que elas não estão lá! 
 
Estudantes unidos pelo fim do silêncio e da impunidade.
 Essa é a parte linda do documentário e, claro, da história toda. Essas meninas de 19,20 anos suportando umas às outras para dar um basta nessa sujeira toda, ainda que caminho à frene seja bem longo.
Parece-me óbvio que - guardadas certas peculiaridades, sobretudo de grana que rola solta - a coisa não deva ser muito diferente por aqui, nas nossas universidades de elite. Quantas e quantas estudantes são violentadas, assediadas e ameaçadas por colegas. Vira e mexe, um caso vem à tona, mas parece ser abafado com velocidade de 7 x 1.
Espero mesmo que o levante das vítimas "gringas"  ecoe por aqui o mais rápido possível. Acredito que já está acontecendo em sinergia com tantos e novos e maravilhosos “despertares”  feministas que testemunhamos entre as jovens.

Enfim, se não assistiu assista! Sobretudo se você acha que:

  • Estuprador é o bandido clássico com revolver na mão e cara de mau.
  • Isso jamais aconteceria com sua filha porque “imagina, uma menina tão estudiosa, não se mete em confusão e só tem amigos de família.”
  • A educação formal do tipo “colégios que mais aprovam alunos no vestibular” é o mesmo que formação e caráter.
  • Tem que ter pena de morte para o estuprador do baile funk, mas quando é menino de camisa Polo Ralph Lauren príncipe familiar, automaticamente você passa para a turma do “veja bem, vamos analisar...” porque sabe que ele poderia ser seu filhinho cuti-cuti. 
   Na real, acho que se você é essa pessoa não estará lendo meu blog, mas, vai que...

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