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Mostrando postagens de 2015

Universos particulares ou Um conto doméstico

Wanda, a diarista exuberante e simpática, passou pela patroa a caminho da porta. Sorriu, como sempre fazia quando cruzava com ela pela casa, diligente, baldes e vassouras nas mãos.  Para esse sorriso largo, raramente havia retribuição da mesma ordem (se é que alguma vez houvera), o que, de modo algum, parecia dissuadi-la da ideia de continuar sorrindo. “Por que sorri tanto essa moça? Será que acha a vida tão boa assim ou é birra, só pra me irritar com tamanho alto astral?”, pensou a mulher estirada no sofá, nas mãos, uma revista que lia sem muito interesse. Sem muito interesse também observou Wanda, expediente encerrado, caminhar para a porta, maquiada, perfumada, dali seguia direto para a escola na qual se esforçava para concluir, tardiamente, o ensino médio. “Quero fazer faculdade, dona Maria Fernanda, não vou ser empregada a vida toda, né?”, dissera certa vez, e sorrira. Ao retirar da mochilinha o Bilhete Único, deixou cair um nécessaire. Bonito, colorido, estampa de fo

ABRAÇOS GRÁTIS

Que bobagem essa coisa de ABRAÇOS GRÁTIS, será que essa gente não tem mais o que fazer?! Pensou, enquanto subia a escada rolante olhando para a moça sorridente que, lá em cima, segurava o cartaz pardo com letras vermelhas, ABRAÇOS GRÁTIS. Desviou o olhar, coçou as costas da mão esquerda, checou o relógio (a 15ª checada dos últimos 15 minutos). Puta que o pariu! Tô mega-atrasado, o Júlio vai me foder nessa reunião

Gato, me liga. Mais tarde tem balada... Ixi, espera. Melhor não!

Quando se é jovem ­- ou nem tanto assim, mas não ainda velha, vá lá, trintona com corpinho de 25 – solteira e moradora de uma metrópole como São Paulo, parece constituir-se um pecado mortal, um crime inafiançável, não querer sair por aí “na night” bebendo todas, dançando como se não houvesse amanhã, exalando euforia por cada poro do corpinho meio suado. É como se você estivesse abdicando de uma parte fundamental da vida, enterrando a si mesma, ainda em vida, numa cova com uma lápide onde se lê:  “Aqui jaz uma jovem mulher em tédio mortal.”