Todo mundo tem um sonho. Ou dois.
Ou mais. É bom. Além de ser uma das coisas que nos fazem humanos, afinal.
O sonho ajuda você a acordar
cedo ou dormir tarde, ou nem dormir, naqueles dias em que você está prestes a
esmurrar pessoas por tais motivos. O sonho pode ser o incentivo para comer
nabo, beber 3 litros de água por dia ou fazer qualquer outra coisa dita salutar
quando, na verdade, você estava num pique de entupir seu organismo de lixo
atômico.
O sonho é tipo um lápis de cor da
vida. Quem não sonha vive num eterno PB, mas não um PB belo e pulsante como uma
foto do Sebastião Salgado, não, um coisa sem graça mesmo. Quem não sonha embrutece um pouco todos os
dias. De modos que, se eu fosse um médico, receitaria, a todos os meus
pacientes, doses diárias de sonhos diversos.
Só que o sonho pode ter efeitos colaterais graves.
Só que o sonho pode ter efeitos colaterais graves.
Todos os sonhos podem e devem ser
sonhados, mas depois dos 10 anos de idade a gente já começa a entender (ou, ao
menos, deveria) que nem todos serão realizados.
Sim, caso contrário, viveríamos num mundo dominado por astronautas e
bailarinas e não há tanta NASA e Bolshoi assim...
E quem quer desapegar do sonho
colorido cravejado de brilhantes com sabor de chocolate? Ninguém. Quem quer
viver preto e branco sem graça? Ninguém. Então a gente continua carregando o
tal sonho na mochila e assoviando feliz pela vida fora.
Em dado ponto da estrada, porém,
a tal mochila começa a pesar e você vai parando de assoviar. Quando se dá conta, está com as costas em carne
viva e a melodia já cedeu lugar a uma sequência infindável de palavrões. Pior,
você andou quilômetros e quilômetros numa estrada linda, dessas de paisagem photoshop da vida real, e sequer reparou
numa florzinha, nem sequer molhou os pés no riacho. Por quê? Porque não podia
desapegar do peso do seu sonho. Um sonho
não se abandona! Jamais desista do seu sonho! Quem tem um sonho sempre alcança!
Sonho sempre vem pra quem sonhar! Não,
minha gente, não! A Xuxa, os e-mails PPT e as páginas de auto-ajuda do FB que
me perdoem, mas sonho se abandona sim e isso pode ser bem menos triste do que
parece.
Sonho se abandona quando ao invés
de impulsionar você para frente, empurra sua cabeça para baixo, dia após dia. Sonho
se abandona quando você já não sabe mais quem é ou o que fazer além dele. Sonho
se abandona quando sua realização – ou não – define você como pessoa. Sonho
se abandona quando vira motivo de vergonha, desespero, ansiedade, raiva e tristeza constantes.
Abandonar um sonho nem sempre é
matar um unicórnio fofo. Às vezes é se libertar de um dragão faminto, enquanto há tempo para salvar o último pedacinho seu que ele ainda não queimou.
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