Que inveja sinto dos que escrevem
como quem dá um tapa na cara ou um beijo
que faz o ar faltar. Palavras que cortam fundo, fazendo verter sangue até o limite
do possível para se continuar vivo ou que aquecem o que estava congelado, quase
morto, até o ponto de fervura ou de explosão.
Mas eu não sou desses (ou dessas).
Minha pena é leve, quase um suspiro. E não importa o quão duro eu tenha
tentado, nem quantos anos tenham se passado, ela teima em não pesar. E eu me
rendo a sua voluntariosa determinação.
Escrevo como chuva fina que nunca
chega à tempestade. Como um sorriso que acolhe, mas não eletriza feito a sonora
gargalhada. Minhas palavras são como a moça jeitosinha que atrai um breve olhar
no salão, mas não ameaça o juízo de ninguém.
É Belo Horizonte, não Paris. É prata e nunca ouro. Príncipe que jamais
chega a rei. É comer por fome e não pelo desejo que faz a boca salivar.
Minhas palavras são como a criança
que brinca com a graça que toda infância possui, mas sem o sopro de alegria que
desperta em nós o desejo de eternidade só para vê-la crescer até o infinito.
É lago de águas tépidas, nunca
mar adentro. É andar de bicicleta na ciclovia, não acelerar a moto na estrada. É amigo de infância, mas não o amor de uma
vida. É o que faz falta quando não está, mas não desperta o medo de ser perdido.
Escrevo assim, brigando com a
leveza da minha pena. Ela segue sem se dar por isso. No seu caminho que parece
já escolhido antes e a despeito de mim e da minha vontade.
São só palavras. Esperançosamente
perdidas. Alegremente estúpidas. Orgulhosamente ingênuas. Talvez um dia cresçam
e apareçam. Talvez apenas permaneçam, como toda palavra.
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