Não confundir. Fazer-se de vítima
é diferente de vitimar-se. “Fulano se faz de vítima”, costuma-se dizer do
sujeito que tem por hábito reclamar de todas as situações ou, ainda pior,
reclamar constantemente da mesma situação... O sujeito que “se faz de vítima”
culpa o outro, os deuses, a sorte ou o destino por seus males, isentando-se da
responsabilidade (para não usar o termo culpa, mais pesado) pelo seu sofrimento
nesta ou naquela situação. Quem “se faz de vítima” frequentemente, mais que
comover o outro, tenta enganar a si mesmo. No fundo sabe que não é nada
daquilo, o erro é seu, mas ele não quer assumir para não ferir seu orgulho ou
seu ego.
Já o sujeito que se vitima não é
um enganador, tampouco alguém que não assume seus erros. Ao contrário, é alguém que se rende a eles
num grau tão profundo que, deliberadamente, se coloca na condição de vítima.
Vítima do outro, vítima da situação, vítima da sua mente. Como se oferecesse a
si mesmo em sacrifício, na maioria das
vezes, em vão.
A diferença entre o primeiro e o
segundo é que, este, não se finge de vítima, ele é. Ironicamente, sendo vítima
é, ao mesmo tempo, agente e algoz. Sabe que não há culpa no destino, nos deuses
ou na má sorte, senão em si mesmo. Ele
se lança, uma vez e outra mais, na mesma situação de sofrimento porque não muda
suas ações (ou omissões). Ao contrário do fulano que “se faz de vitima” e chama
a atenção de todos para suas mazelas, numa cantilena infinda de “aí de mim”,
a pessoa que se vitima, muitas vezes, não reclama, não se lamenta, sorri até!
É mais fácil deixar de fazer-se
de vítima do que de vitimar-se. É só parar de reclamar, dizer eu errei, bola
pra frente. Uns chacoalhões de um bom amigo bastam. Já parar de vitimar-se é
mais complexo, exige muito mais esforço. É preciso entender as motivações,
suplantar os medos, a culpa e o ímpeto de imolar-se para resgatá-las. Um
chacoalhão pode não bastar, mas, quem sabe, não seja um primeiro passo.
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