Então ela chorou por dezessete
horas seguidas. Chorou sozinha. Chorou no trabalho. E na rua.
Adormeceu com os olhos inchados,
mas menos que o coração. Que parecia não caber no peito, de tanto que apertava.
Dormiu um sono agitado, quente,
abafado, de sonhos que não conseguiu se lembrar.
Então, acordou e percebeu que
fossem quantas fossem as lágrimas que vertesse, não lavariam o acontecido.
Percebeu que fossem quantos fossem os apelos feitos com o peito arfante, seriam
em vão. Pois, assim como quando um não quer, dois não brigam, é igualmente
verdade que quando um não quer, dois não podem amar. Afeto não é migalha que se implore, é dádiva
que vem da alma, se têm ou não se têm.
Fazia sol e o calor já vibrava lá
fora. Ela se levantou, tomou um banho e
se vestiu, de branco. E, com o mesmo cuidado com que penteou os cabelos claros,
arrumou a dor numa caixinha. Guardou a caixinha num canto da alma, um que só
ela conhece, e que de vez em quando tem de visitar.
Ainda sem conseguir sorrir, mas sabendo
que a seu tempo o riso voltaria a iluminar seu rosto (ele sempre volta, afinal), correu de volta para os braços da vida. A única
que sempre os mantém abertos, paciente, firme, sábia, pronta para receber aos
que não o são, ainda assim, belos e dignos em seus modos imperfeitos.
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