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Hopes and Fears - Part I


Meu post de hoje, certamente, não encontrará eco em muitos de vocês meus inúmeros leitores. Todavia, é inevitável que eu escreva sobre isto, na verdade, é mesmo incrível que eu ainda não o tenha feito.
Eu tenho medo de dirigir. Sim. Sei que para muitos isto soa tão ou mais estranho do que alguém dizer que tem medo de tomar banho (tirando o Cascão, claro) ou medo de pentear os cabelos (tirando quem tem dreadlocks, claro).
Tirei minha habilitação tardiamente, com 2o e poucos anos, após três tentativas, e jamais, em momento algum, tive a sensação de prazer ao segurar um volante de automóvel.
Carteira de motorista na mão, parecia que finalmente eu iria começar a dirigir de verdade por aí. Cadê que veio a coragem de sair sozinha? Aos trancos e barrancos, sempre com as pernas tremendo, as mãos suando, o coração batendo a 578 por minuto, a certeza absoluta de que a qualquer momento eu iria me envolver num acidente gravíssimo, ia eu dando minhas voltinhas pelo bairro, fazendo barbeiragens mil, sempre com meu pai ou irmã a tiracolo. Fingia não perceber que sofrer tanto daquele jeito não podia ser algo normal. Até que, um belo domingo, numa destas voltinhas que mais pareciam uma tortura chinesa, bati o carro no muro de uma casa. Ninguém se machucou, houve uma pequena avaria no veículo e pronto, era o "pretexto" que eu precisava para declarar, aos prantos, a la Scarllet O`Hara: jamais dirigirei um carro novamente! Esta coisa não é para mim.
Renovei a CNH, quando chegou a época, para poder usá-la como um RG que cabe melhor na carteira, e só. A fronteira entre o banco do passageiro e o do motorista parecia mais intransponível que a do México para os EUA sem visto e passaporte.
Desnecessário dizer que isto sempre foi um fator limitante em minha vida. Fato agravado pelo fato de eu morar em São Paulo, cidade gigante, onde tudo é longe e, se ficar parado no trânsito dentro de um carro é irritante, muito mais irritante é ficar parado no ponto de ônibus por horas, depois desafiar as leis mais elementares da física em locais onde o mesmo espaço é ocupado ao mesmo tempo por uns cinco corpos, em média. Não há cabelo, perfume francês ou roupa bem passada que resista a um simples trajeto casa-trabalho. Você sai parecendo uma alta executiva e chega ao escritório no melhor estilo pós-guerra. Isto sem contar o selo "Mala sem Alça Testified Quality" que fica grudado permanentemente em sua testa. Qualquer festa, baladinha, show, eventos em geral e a pergunta que não quer calar é: quem vai dar carona para a Luciana? Seus horários sempre tem que se ajustar a agenda de terceiros e quartos. Quer chegar mais cedo? Ir embora mais tarde? Só dando uma de Angélica e indo de táxi, caso contrário o dono do carro tem sempre o mando da partida. Quanto nervoso já passei por conta disto, meu Deus!
Fora toda a vergonha de estranhos. "Você não veio de carro? Não, eu não dirijo. Ah, não?" A pessoa te olha com aquela cara de "nossa, como assim?" Se para por aí, tudo bem. O duro é quando ela resolve esticar a conversa. "Mas porque? Você não tem carta? Tenho. É que eu tenho medo." Pronto. Basta para ela dar uma risadinha cujo subexto é. "Nossa, que banana! Esta aí não deve nem conseguir falar ao telefone e anotar um endereço ao mesmo tempo. Será que ela soma 2 +2?"
Sempre há os bem intencionados que tentam te animar, te dar uma força. "Ah, mas todo mundo tem medo no começo. Você tem que pegar o carro e sair. Só se jogando no trânsito é que a gente pega a prática. Isto de fobia é bobagem Imagina! Dirigir é uma coisa tão comum. Todo mundo dirige!!" E blá,blá.blá.
Muitas vezes, a pessoa que diz isto é do tipo que não se aproxima da sacada do apartamento por que tem "receio",ou passa mal em provador de loja, porque é "muito apertado". Mas tudo bem. São fobias socialmente aceitáveis. Agora,medo de dirigir? Só sendo muito looser...
Cansada de passar nervoso, deixar de fazer coisas, deixar de ir a lugares que queria,de me sentir humilhada, em janeiro de 2009, como último recurso, procurei uma clínica psicológica e começei um tratamento de terapia comportamental focado em medo de dirigir. Basicamente o tratamento consiste em aulas de direção e terapia em grupo. O que aconteceu? Conto no próximo post.

Comentários

Lélia Campos disse…
Fiquei curiosa pra saber sobre as aulas!
Adoro a maneira como escreve, mas as vezes quero te bater com a sua auto-depreciação!!!!
Precisamos nos ver, é fato.
Parabéns, por dar mais um passo em relação a esse problema, sei que não deve ser nada fácil, mas você vai conseguir porque sei que você é muito guerreira em outros aspectos, como no trabalho por exemplo, então tenho certeza que irá vencer esse medo,também estou anciosa para ler o próximo post e saber o final feliz... beijos e saudades!
Chester disse…
Lu, parabéns pela coragem em ir adiante. Mas faça isso por sua vitória pessoal, não pelo carro. Eu abandonei esse esporte coletivo há anos. É preciso se adaptar, eventualmente planejar a residência perto do trabalho e ir pras baladas sem hora pra voltar (uma alternativa bem melhor do que ficar dependendo da carona de um ou de outro), mas acredite: é o melhor que você faz.

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