Então ela chorou por dezessete horas seguidas. Chorou sozinha. Chorou no trabalho. E na rua. Adormeceu com os olhos inchados, mas menos que o coração. Que parecia não caber no peito, de tanto que apertava. Dormiu um sono agitado, quente, abafado, de sonhos que não conseguiu se lembrar. Então, acordou e percebeu que fossem quantas fossem as lágrimas que vertesse, não lavariam o acontecido. Percebeu que fossem quantos fossem os apelos feitos com o peito arfante, seriam em vão. Pois, assim como quando um não quer, dois não brigam, é igualmente verdade que quando um não quer, dois não podem amar. Afeto não é migalha que se implore, é dádiva que vem da alma, se têm ou não se têm. Fazia sol e o calor já vibrava lá fora. Ela se levantou, tomou um banho e se vestiu, de branco. E, com o mesmo cuidado com que penteou os cabelos claros, arrumou a dor numa caixinha. Guardou a caixinha num canto da alma, um que só ela conhece, e que de vez em quando tem de visitar. Ain