Wanda, a diarista exuberante e simpática, passou pela patroa a caminho da porta. Sorriu, como sempre fazia quando cruzava com ela pela casa, diligente, baldes e vassouras nas mãos. Para esse sorriso largo, raramente havia retribuição da mesma ordem (se é que alguma vez houvera), o que, de modo algum, parecia dissuadi-la da ideia de continuar sorrindo. “Por que sorri tanto essa moça? Será que acha a vida tão boa assim ou é birra, só pra me irritar com tamanho alto astral?”, pensou a mulher estirada no sofá, nas mãos, uma revista que lia sem muito interesse. Sem muito interesse também observou Wanda, expediente encerrado, caminhar para a porta, maquiada, perfumada, dali seguia direto para a escola na qual se esforçava para concluir, tardiamente, o ensino médio. “Quero fazer faculdade, dona Maria Fernanda, não vou ser empregada a vida toda, né?”, dissera certa vez, e sorrira. Ao retirar da mochilinha o Bilhete Único, deixou cair um nécessaire. Bonito, colorido, estampa de fo